Para lá dos Urais
Tenho saudade. De gente, tempos, sítios, situações, de tudo. Aliás, para mim não há regra para a saudade. Basta que algo relembrável fique para trás para que um par de anos o transforme em saudade. Na realidade, a saudade é a minha forma de cristalizar o passado que faz sentido.
Uma pequena saudade que eu tenho é do tempo passado nos alfarrabistas do Chiado. Lembro-me particularmente das dedicatórias nas guardas (“do padrinho Júlio Alçada pelo teu 9º aniversário”). Dos títulos em itálico ou a imitar caligrafia. E do ar mofado nas prateleiras de topo.
Mas, sobretudo, recordo a emoção daquelas aventuras encadernadas a percalina. Júlio Verne escrevia-as e a Corazzi editava-as, chamando à colecção “Viagens Maravilhosas aos Mundos Conhecidos e Desconhecidos”.
Livro a livro, aos trezentos escudos de cada vez, compunha-se quase todo o legado de Verne. Viagem a viagem, cheguei a 74 volumes impressos no fim do Século XIX e trazidos na ortografia da época: “No decurso do anno de 186… commoveu singularmente o mundo inteiro uma tentativa scientifica sem precedentes nos annaes da sciencia. Os socios do Gun-Club, associação de artilheiros fundada em Baltimore depois da guerra da América, tiveram o pensamento de estabelecer communicação com a Lua, - sim, com a Lua, - atirando-lhe uma bala.”
Conheci “Clovis Dardentor”, fiz “Dois Annos de Ferias”, passei “Cinco Semanas em Balão” e cruzei-me com “Os Piratas do Archipelago”. De passagem, soube que “O Bilhete de Loteria nº 9:672” não estava nas mãos de “Kéraban, o Cabeçudo” e que este também não tinha “Os Quinhentos Milhões da Begun” (nem ele nem “Miguel Strogoff”).
Não cheguei a ler todos os 74. Sei também que dificilmente os lerei. Além de me saber bem esta saudade, não quero arriscar comprometer o sabor que lhes tenho. É que, sei-o bem, Júlio Verne poderá ter sido o mentor desta minha irrequietude.
Uma pequena saudade que eu tenho é do tempo passado nos alfarrabistas do Chiado. Lembro-me particularmente das dedicatórias nas guardas (“do padrinho Júlio Alçada pelo teu 9º aniversário”). Dos títulos em itálico ou a imitar caligrafia. E do ar mofado nas prateleiras de topo.
Mas, sobretudo, recordo a emoção daquelas aventuras encadernadas a percalina. Júlio Verne escrevia-as e a Corazzi editava-as, chamando à colecção “Viagens Maravilhosas aos Mundos Conhecidos e Desconhecidos”.

Conheci “Clovis Dardentor”, fiz “Dois Annos de Ferias”, passei “Cinco Semanas em Balão” e cruzei-me com “Os Piratas do Archipelago”. De passagem, soube que “O Bilhete de Loteria nº 9:672” não estava nas mãos de “Kéraban, o Cabeçudo” e que este também não tinha “Os Quinhentos Milhões da Begun” (nem ele nem “Miguel Strogoff”).
Não cheguei a ler todos os 74. Sei também que dificilmente os lerei. Além de me saber bem esta saudade, não quero arriscar comprometer o sabor que lhes tenho. É que, sei-o bem, Júlio Verne poderá ter sido o mentor desta minha irrequietude.
Etiquetas: Escritores, Livros
2 Comments:
E o tesouro de Xangri-lá? Ou a moeda nº 1 do Tio Patinhas? E o Toqui cabeçudo tem algo que ver com o Kéraban? Cumpts. :)
Gostei muito deste texto. Aproveito para publicitar o meu blog dedicado ao autor francês:
www.jvernept.blogspot.com
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