De tapete voador

À distância de quatro ou cinco fusos horários e no conforto do prime time, tudo o que o dinamarquês (ou um canadiano ou austríaco) vê parece desafiar a inteligência. Mulheres de negro a prantearem com as mãos no ar e um sapato sem pé que jaz numa rua coberta de detritos. Pode ser em Ramallah, Tel-Aviv ou Kerbala, “confesso que já não presto atenção”. Judeus ou muçulmanos, libaneses ou iraquianos. Vista do Ocidente, a banalidade já fez esmorecer a consternação.
Maomé é tido como o fundador da religião islâmica e o último mensageiro da palavra do Deus Alá. Mas, ao morrer sem sucessão, deixou aberto o caminho para a divisão do Islamismo em dois ramos principais: o Sunismo e o Xiismo. Os primeiros (cerca de 85% do número total de muçulmanos em todo o mundo) defendiam que quatro califas eleitos deveriam assegurar a continuidade, enquanto os Xiitas opinavam que Ali ibn Ali Talib – como primo e cunhado de Maomé – seria o legítimo sucessor.
Fechando o capítulo religioso, entro no étnico: ser Árabe não é o mesmo que ser Muçulmano. É-se Muçulmano como se é Cristão e é-se Árabe como se pode ser Chinês. E um Chinês pode ser Muçulmano, assim como há Árabes Cristãos. E Árabes Judeus.
No Médio Oriente, abundam os grupos étnicos: já se falou dos Árabes, mas ainda existem os Persas (sobretudo vivendo no Irão, onde apenas 3% da população é Árabe), os Turcos, os Judeus (cujo nome da religião é o mesmo do grupo étnico; ou seja, há seguidores de Alá que pertencem há etnia judaica), os Azeris, os Berberes, etc.
O Médio Oriente não é fácil de compreender. Eles mesmo, os que lá vivem, têm grandes dificuldades de entendimento. Mas, nesta linha de consenso e paradoxo, uma coisa tenho que dizer: sinto-me desejoso de lá regressar. Já vão fazer cinco anos que no Cairo vivi os mais atmosféricos e intemporais momentos da minha vida de viagens. E se há uma cidade, também uma capital, onde sinto que posso esperar o mesmo é Sana’a.
Pelos desertos e montanhas do Médio Oriente, não deverão faltar terras que não mudaram de rosto em séculos de existência. Só que essas estarão separadas por estradas de morte e desfiladeiros insuperáveis. A Sana’a, a capital do Iémen, chega-se de avião. Mas deverá ser percorrida de tapete voador…
Infografia de FOXnews.com e fotografias de Mideastimage e Eesti
Etiquetas: Asia, Egipto, Escritores, Iémen, Islão, Judaísmo, Livros, Médio Oriente, Um-dia-destes-passo-por-lá
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