terça-feira, setembro 18, 2007

Maine no Outono

Para mim, a América é verdadei- ramente uma questão de tempo. Há-de chegar um ano, na altura que for a certa. Sem pressas. Porque a minha América – o país – também tem que esperar pela roda dos anos. Paradoxalmente, é uma América paciente e contemplativa. Porque tem tudo a ver com o tempo.

Quando for Outono, vou querer estar no Maine. Se tiver sorte, hei-de dar por mim a acordar numa cabana com coisas penduradas e tinta branca a esfoliar-se das paredes. Chegando à janela, vou encontrar o quadro que me puxou para aqui: a folhagem em múltiplos tons de fogo. E está sol. Deve estar frio, mas também está sol.

Ao sair para o bosque, puxo a gola para cima. Vejo ao longe uma antiga camioneta Ford. Está abandonada e só mesmo a ferrugem é que lhe encontra utilidade. Olho para dentro do tablier e encontro uma pequena poça de água junto aos pedais. Depois, sigo o carreiro, pensando que no caminho de regresso tenho que levar lenha para a lareira.

Durante meio quilómetro, acompanha- -me um ribeiro que gargareja de encontro às pedras. Depois, chego à ponte. É uma ponte antiga de madeira, daquelas cobertas. O sol continua a acompanhar-me e agora está a espreitar através das frinchas na madeira.

Quase sem me aperceber, o porto surge-me à vista, aos pés de um horizonte cor de chumbo. Enquanto o tempo passava, as nuvens foram-se encastelando por cima dos barcos que hão-de sair à pesca da lagosta. Em fundo, o Oceano promete o apocalipse em ondas de seis metros. É o Inverno que ameaça, endurecendo os dias dos que aqui vivem todo o ano.

Percebo que a partida já esteve mais longe. Marchando inexoravelmente, Novembro está quase no fim. Então, sinto que outros sítios me esperam. É tempo de New York.

Fotografias de ToniLuca, Vincent's Images, shrike1964 e l'insouciant1

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2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Meu querido e amigo cunhado,
Vim dar uma olhadela no teu blog que cada vez está mais fascinante e com relatos que para quem te lê não fica indeferente,deixando-nos a imaginar e com vontade imensa de descobrir este mundo que nos rodeia.Sabes que tenho uma enorme admiração por ti como pessoa, e quando começo a ler as tuas aventuras vivênciadas fico com vontade de fazer a mochila e arrancar para explorar vários destinos.Li os teus post´s com muita atenção e só te posso dizer que escreves com o coração e com alma e isso passa para o leitor. Já que falas de New York (já falámos)acho que é um destino que em qualquer altura do ano é óptima para ser visitado porque qualquer das 4 estações tem a sua beleza.Portanto, quando tiveres opurtunidade de visitares New York com respectiva mulher e filho não hesitem.Despeço-me com a promessa que virei ao teu blog com assiduidade! bjs.

19 setembro, 2007 00:19  
Blogger Gonçalves said...

Mais importante que tirar uma foto ao lado do impeire steite bile (como dizia o v chitas) ou de outro do género, é conseguir seguir os tons e os cheiros que se identificam e diferenciam quando estamos no estrangeiro. Grande abraço meu globe trotter.

20 setembro, 2007 00:19  

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