2002.12.27, Cairo (Parte III)

Era Sexta-Feira, o dia sagrado do Islão. Completamente deserta, a mesquita de Sultan Hassan recolhera-nos num silêncio de sepulcro. Ali estávamos, dois infiéis ainda em tempo de paz, e pela primeira vez sentíamos o Cairo tranquilo. Estranhamente, mesmo lá fora, a cidade estava muda e inerte. Foi então que surgiu.
Num chamamento do outro mundo, o troar de mil gargantas encheu os ares. Gutural e temível, como dum exército de fantasmas: “Aaaaaaaallaaaaah”. Ainda hoje me recordo da entoação com que aquela prece encheu os ares. Ao mesmo tempo tétrica e profunda, fez-nos estremecer. Por dez segundos, sentimos um medo irracional.
Há um Cairo mais moderno, salubre e turístico. Mas o Cairo que para nós ficou foi o das vidas amargas. E dos momentos atmosféricos. O Cairo da eternidade, que nos maravilhou para lá do indefinível.
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