quinta-feira, março 16, 2006

Verde no azul (C'haouen, 2003.03.01)

Todos conhecemos Chefchaouen. Há quem não saiba, mas já se cruzou com as suas portas e janelas. E já olhou com espanto para um dos dois azuis mais extraordinários de todo o mundo.

Fica no Norte de Marrocos e é uma terra de fantasia a que não se pode ficar estranho. Mas é terra onde as portas não se abrem para a liberdade.

Aos 26 anos, o Oued foi à procura dos dias livres e atravessou o mar até Bruxelas. Mas a vida não lhe dera esse desígnio e teve que regressar. Para a Chaouen que é azul, mas onde se entende que a relva cresce mais verde para Norte.

Se fosse uma personagem de Mackintosh-Smith, talvez dissesse que “no estrangeiro, a fortuna dar-te-á uma pátria; na pátria, a pobreza fará de ti estrangeiro”. Ou que o Magrebe não é uma janela azul para a oportunidade. Mas, aos 41 anos, apenas encolhe os ombros com resignação e deixa os olhos brilhar quando fala da Grand-Place.

O Hassan nunca saiu. Enquanto ele sorri compro- metido, ponho-me a pensar que a sua oportu- nidade deve estar em Chefchaouen. Se há gente que vende a senegaleses e malianos um bilhete para a morte anónima numa jangada, eles devem ter estes olhos e este bigode. Mas também pode ser a minha imaginação a trabalhar. O Hassan não fala muito.

Vencer o Estreito de Gibraltar é um sonho antigo. Hoje no caminho para Norte, como dantes era ao contrário. Até 1920, só três infiéis tinham percorrido todos os 100 quilómetros que separam a Europa de Chefchaouen. E apenas um sobreviveu para dizer que a relva também cresce verde para Sul.

Foi também em Chefchaouen, acompanhado daquele incrível azul que acena às janelas e acolhe nas portas, que descobri que o verde também crescia para Sul. Aí, começou a minha viagem.

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