Safari – Dia 1 (Joanesburgo, 2003.04.18)
Quando ali entrei, tinha o reencontro com o Sahara na cabeça. Seriam quinze dias a atravessar a Líbia no dorso de um camelo. Seriam duas semanas de uma só rotina, em que o horizonte se repetiria no topo de cada duna. E, sobretudo, seria o cru silêncio a testar os limites de quem não era talhado para aquela vida do deserto. Seria a revelação de uma vida.
Só que naquele dia, dei de caras com o inesperado. E quando dali saí, o meu destino mexera-se no mapa. O desconhecido ainda ali estava e até o continente se mantinha, mas a linha do Equador passara para norte. Agora, era o Botswana que me esperava. E o deserto fazia-se selva.
Confesso que no dia em que aterrei em Joanesburgo, ainda me sentia ultrapassado pelo volte-face. Acho que ele se chamava Miguel, mas não tenho a certeza. Sei que me falou do Delta do Okavango com o maior entusiasmo com que se pode falar a um desconhecido. E sei que lhe bastara meia hora de discurso arrebatado para me fazer largar as areias para outros quaisquer quinze dias. Agora, já cá estávamos, a Fátima e eu, numa das mais perigosas cidades do mundo.
De Jo’Burg pouco se viu. Encontrei muros com 6 metros de altura guarnecidos com arame farpado e painéis de “Armed Response” ou “Watch Dog in Patrol”; assisti a sanguinolentos noticiários de TV; e ouvi alertas a dissuadirem-me de ir até ao centro da cidade ou aos subúrbios ou às townships.
Tudo isto me intrigou. O que é feito dos sonhos de Biko e Mandela? E onde é que ficou a lição de humanidade da Truth & Reconciliation Comission? Porque é que esta nova África do Sul confina a minha segurança a uma cerca electrificada? Acabei por adormecer a pensar neste filme a preto e branco.
Seria a última noite num colchão decente durante um par de semanas. Na madrugada seguinte, teríamos pela frente onze modorrentas horas embaladas pelo matraquear de um motor de camião.
Ao princípio da tarde, já tinha um carimbo do Botswana no passaporte. Safari.
Só que naquele dia, dei de caras com o inesperado. E quando dali saí, o meu destino mexera-se no mapa. O desconhecido ainda ali estava e até o continente se mantinha, mas a linha do Equador passara para norte. Agora, era o Botswana que me esperava. E o deserto fazia-se selva.
Confesso que no dia em que aterrei em Joanesburgo, ainda me sentia ultrapassado pelo volte-face. Acho que ele se chamava Miguel, mas não tenho a certeza. Sei que me falou do Delta do Okavango com o maior entusiasmo com que se pode falar a um desconhecido. E sei que lhe bastara meia hora de discurso arrebatado para me fazer largar as areias para outros quaisquer quinze dias. Agora, já cá estávamos, a Fátima e eu, numa das mais perigosas cidades do mundo.
De Jo’Burg pouco se viu. Encontrei muros com 6 metros de altura guarnecidos com arame farpado e painéis de “Armed Response” ou “Watch Dog in Patrol”; assisti a sanguinolentos noticiários de TV; e ouvi alertas a dissuadirem-me de ir até ao centro da cidade ou aos subúrbios ou às townships.

Seria a última noite num colchão decente durante um par de semanas. Na madrugada seguinte, teríamos pela frente onze modorrentas horas embaladas pelo matraquear de um motor de camião.
Ao princípio da tarde, já tinha um carimbo do Botswana no passaporte. Safari.
Etiquetas: Africa, Africa do Sul, Botswana, Safari, Transportes
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